Quando começou a guerra, algumas semanas depois do 7 de Outubro, foi a época dos Cagões, dos embaixadores do cagaço, cheios de medo que essas hordes de fanáticos de cor de pele assim demasiado escura cruzassem o oceano prontos a…
Quando começou a guerra, algumas semanas depois do 7 de Outubro, foi a época dos Cagões, dos embaixadores do cagaço, cheios de medo que essas hordes de fanáticos de cor de pele assim demasiado escura cruzassem o oceano prontos a conquistar Paris e Lisboa e a acabar com os Iphones, os mercedes, a menina mais nova a estudar em Londres e as férias nas Maldivas; porque isto no fundo é um pouco assim: medo, medo dos “outros” – e a verdade é que a Palestina é demasiado longe para os cagões cheios de medo, e as pessoas que lá vivem, em particular as mulheres e as crianças vivem “noutro mundo”, um mundo profundamente ameaçador para os cagões. Por isso, lá no fundo, Israel terraplanar à bomba a faixa de Gaza e matar milhares e milhares de pessoas (terroristas ou não, isso é irrelevante) é estranhamente reconfortante, de alguma forma acreditar que a resposta ao cagaço que se têm “deles”, é meter-lhes ainda mais medo; como se crianças que perderam famílias inteiras, que toda a sua curta vida viveram no meio da violência mais sórdida e atroz que possam imaginar, com bombas de 200 kg a rebentarem a metros dos escombros das suas antigas casas, como se essa gente com a cor de pele errada, tivessem medo de Israel, dos F35 ou dos cagões. Muitas vezes me interrogo que livros esta gente andou a ler na vida…leram Uris? Leram o “Adeus às armas” de Hemingway? Leram “A Oeste nada de Novo” do Remarque? Como se pode ainda acreditar no medo, como é que, pessoas aparentemente cultas, que até se dizem de esquerda no caso da Helena, acreditam que assassinar à bomba 35000 pessoas, entre velhos, mulheres e crianças vai ganhar alguma guerra, vai ganhar alguma coisa para Israel, ou que isso é “necessário” porque Israel tem “direito à defesa”, mesmo que o resultado seja a barbárie. Como é possível acreditarem que o ódio e a vingança é resposta para sejo o que for. Gente que leu os livros errados, gente perigosa.
A vida num Feed
Escrito em: 2024-08-03
Imane é uma mulher, toda a sua vida foi, sempre combateu como mulher, mas não parece uma mulher, e esse é o real problema. Não tem mamas, não tem aquela anca larga, é feia e parece um homem, neste momento…
Imane é uma mulher, toda a sua vida foi, sempre combateu como mulher, mas não parece uma mulher, e esse é o real problema. Não tem mamas, não tem aquela anca larga, é feia e parece um homem, neste momento vivemos o tempo das redes sociais em que as meninas e os meninos mostram o corpo com a paisagem de Veneza, Paris, Formentera ou as Seychelles por trás em desfoque, porque Veneza ou Istambul é irrelevante, vivemos a época em que os gostos em fotos de cuzinho empinado alimentam o ego, e se perdeu o sentido da ordem natural das coisas, que somos além do que parecemos, que ‘ser’ é muito mais do que parecer. Não me interessa assim tanto o que eu pareço ser, e em certa medida estou me a cagar para o que as pessoas acham que eu sou, tendo no entanto a plena consciência que vivo numa época em que se cultivam estereótipos nas redes socias, em que se fomenta uma obsessão por corpos jovens e pelo normativo da beleza masculina e feminina, ao contrário do que nos é vendido pelos média.
Não, a nossa sociedade não está mais tolerante, está é mais dividida e o que nós “parecemos” ser conta muito, julgamos através dos olhos porque é o que fazemos, e na realidade a única coisa que podemos fazer, quando estamos no feed do Instagram ou do TikTok, quando julgamos de relance uma vida ou uma pessoa naqueles micosegundos efémeros em que um homem ou mulher é reduzido a uma imagem com Nova York desfocada por trás.
O Carniceiro de Gaza
Escrito em: 2024-07-28
Este psicopata assassino (que é exactamente o que este homem é), depois de levar a cabo uma vingança sórdida sobre um povo encurralado entre Israel e o Norte do Egipto, matando 35000 pessoas, cerca de metade das quais mulheres e…
Este psicopata assassino (que é exactamente o que este homem é), depois de levar a cabo uma vingança sórdida sobre um povo encurralado entre Israel e o Norte do Egipto, matando 35000 pessoas, cerca de metade das quais mulheres e crianças demonstra ao fim e ao cabo que Putin tem razão, que o Hamas tem razão, que a única forma de responder ao ódio e à violência discricionária é com mais violência; eles matam 1500, nós matamos 35000 e ganhámos, as contas simples dos carniceiros covardes. A falência moral das ditas sociedades livres fica em grande medida patente nesta demonstração de Netanyahu, a evidência de que a barbárie não é exclusiva do Hamas, de Putin ou do outro palhaço gordo da Coreia do Norte, que nós, deste lado, não somos no fundo melhor que eles, que a única resposta possível é a morte, a destruição, o punho couraçado de quem tem aviões, bombas e a força destruidora da nossa suposta justiça que tudo varre numa sentença simples… nós e eles, os outros, numa cruzada por valores que nos livros que nos mandaram ler na escola eram tudo menos isso, que nos ensinavam o contrário, os valores do humanismo, do respeito pela vida humana e pela verdadeira justiça.
O Lobo cansado
Escrito em: 2024-07-03
A idade de Biden para mim é nota de rodapé, devemos sim assinalar o fim da nossa superioridade moral perante o mundo, a erosão sem retorno no deserto das convicções e da moral mais básica perante o genocídio em Gaza;…
A idade de Biden para mim é nota de rodapé, devemos sim assinalar o fim da nossa superioridade moral perante o mundo, a erosão sem retorno no deserto das convicções e da moral mais básica perante o genocídio em Gaza; a miragem do nosso mundo livre é reflexo do abandono que as sociedades ocidentais sociais democratas conscientemente fizeram dos seus valores mais intrínsecos: humanismo, justiça e direitos humanos. Tudo isso foi bombardeado por Israrel em Gaza, enquanto Biden tacitamente enterrava nos seus destroços tudo aquilo pelo que os nossos pais lutaram: uma sociedade justa, democrática e livre.
Biden é um lobo em pele de cordeiro, cúmplice da maior barbárie desde a segunda guerra mundial, 37000 mortos, entre velhos, mulheres, crianças, oficiais da ONU, cúmplice de um estado dito defensor e representante das nações livres que bombardeia escolas, campos de refugiados e hospitais, e por isso muitos questionam, e com alguma lógica, como pode Trump ser pior do que isto? Já há muito aprendi, e da pior forma, que a uma meia verdade, é preferível a mentira completa, calha no entanto de Biden ser circunstancialmente a única trincheira a ocidente da social democracia, o que é uma meia verdade, e por isso arregimenta do seu lado a maioria da intelectualidade endinheirada do sul, de Nova York, e sobretudo dos grupos de comunicação social, deixando a Fox num canto escuro, a falar para as paredes. Tenho dúvidas que este lobo inevitável seja a saída para alguma coisa de positiva no nosso futuro, Biden não tem a juventude com ele, não tem a esquerda democrática com ele, e os que estão com ele olham-no como um mal menor. E é por isso que Biden vai perder, é por isso que Macron vai ser corrido, as pessoas sentem que tudo isto não passa de uma charada: a Ucrânia, Gaza, tudo arautos de algo ou alguma coisa que se aproxima a grande velocidade. E desta vez o mundo virou-nos as costas… não passamos de uns decrépitos hipócritas, sem valores e de mãos ensanguentadas.
Os anos da escravidão
Escrito em: 2024-05-09
O lobo Biden boceja perante a barbárie, diria que, mesmo que seja apenas mais um episódio da farsa, pelo menos o embuste incendeia a juventude inquieta que assola as universidades do sul e ameaça expor a hipocrisia e o cinismo…
O lobo Biden boceja perante a barbárie, diria que, mesmo que seja apenas mais um episódio da farsa, pelo menos o embuste incendeia a juventude inquieta que assola as universidades do sul e ameaça expor a hipocrisia e o cinismo da administração Biden, que nunca escapará do julgamento histórico, e logo que o carrasco de Gaza, Netanyahu, seja levado perante a justiça, o ajuste de contas com Biden terá de ser feito pelas Democracias Ocidentais. A dimensão da falência moral das ditas sociedades das democracias livres representa de tal forma um retrocesso civilizacional que não há de facto margem para outro desfecho que não seja o confronto com a nossa própria imagem no espelho embaciado por estes 6 meses tenebrosos de genocídio, barbárie e apocalipse. Gaza é um filho monstruoso do capitalismo, das sociedades liberais do ocidente e da nossa incapacidade de sermos verdadeiramente livres, mas antes escravos obedientes de uma ordem cínica e amoral que se auto-intitula como defensora dos “nossos” valores. Gaza é a prova que não somos livres. Somos escravos.
O Sonhador Acordou
Escrito em: 2024-03-02
A voz do mundo exterior que um dia nos levará ao paraíso, a metáfora perfeita para a nossa ânsia de liberdade e conexão com as nossas raízes, é encarnada nesta história por essa imensa figura, o avatar perfeito do líder…
A voz do mundo exterior que um dia nos levará ao paraíso, a metáfora perfeita para a nossa ânsia de liberdade e conexão com as nossas raízes, é encarnada nesta história por essa imensa figura, o avatar perfeito do líder inspirador, Paul Muad’ib, que paradoxalmente é tão só uma criação humana, uma história, e ele, sendo nada mais do que um homem usa a arma na sua mão: o desejo de liberdade e justiça de um povo para o seu propósito pessoal de vingança. Atormentado que está pelo seu destino, Muad’ib bebe a água da vida que lhe abre o olho interior, que o faz ver por fim a sua própria tragédia e o Apocalipse que se aproxima, que sente impossível de evitar, essa força imensa, ardente e poderosa que é a vontade de todo um povo ou nação. Paul olha nos olhos do Barão antes de lhe espetar a faca no pescoço e completar e seu arco, sabendo no entanto que o que começou já ninguém poderá alguma vez parar; é essa a parábola tremenda da obra de Herbert, e no seu pessimismo inerente, nos revemos, nós, humanos, nas nossas falhas, mesmo que movidos pelo mais nobre dos propósitos, a nossa humanidade, o ódio, a vingança, o medo, são a porta para as mais sórdidas atrocidades, para o totalitarismo, para a intolerância, para a morte.
“Dune” fala sobre esses homens, esses humanos, que um dia nos prometeram o paraíso, de Jesus Cristo a Spartacus, a obra final sobre a imensa abóbada de heróis corporizada na figura mítica de Muad’ib é um documento profundamente humano que apela à nossa compaixão por nós mesmos e pelo nosso desejo de liberdade, de justiça e de progresso, a base das sociedades modernas, é por outro lado uma fábula cautelar sobre as figuras messiânicas, sobre a embriaguez das religiões, e de não olhar a vida e o mundo como ele é, mas antes como num sonho acordado. Um filme central na cultura cinematográfica das últimas décadas, que figurará como um marco indelével na nossa cultura popular, até pela sua dimensão educativa e filosófica, pelas questões penetrantes que levanta e sobretudo pela mensagem comovente e sentida que o autor nos quer deixar. Absolutamente obrigatório, para ver com toda a família, e para depois ir até à beira mar, ou até casa, e falar sobre ele no que resta da noite. Cinema imenso, para ser vivido intensamente.