Do filão ainda não muito escavado das histórias da ameaça da A.I.,e à semelhança da narrativa homónima de Assimov, a A.I. é aqui a vítima, a raça proscrita ao exílio (na china / Ásia) resistindo no seu reduto remoto ao…
Do filão ainda não muito escavado das histórias da ameaça da A.I.,e à semelhança da narrativa homónima de Assimov, a A.I. é aqui a vítima, a raça proscrita ao exílio (na china / Ásia) resistindo no seu reduto remoto ao genocídio dos humanos, apostados em restabelecer a ordem, depois de incriminar, injustamente, os robots de AI por um desastre nuclear. Interessante algum pendor masoquista de Hollywood em relação à espécie humana, sempre de maus fígados, gente básica e com sentimentos rasteiros, vingativa; diria que a horde de esquerda de Sanders fez alguma escola por entre os privilegiados do show biz, que retribuem aqui, como em Avatar, fazendo dos humanos uns pacóvios materialistas, colonizadores despóticos, oriundos de uma potência bélica imparável, apostada em erradicar a AI da face do planeta.
Gareth Edwards pega nesta história iminentemente política e veste-a visualmente de uma forma deslumbrante, apostando numa fotografia de cortar a respiração, obra também do próprio realizador, que segurou a câmara, uma FX3 da Sony de cerca de 5000 eur, que apesar de ainda distante dos bolsos da maioria, representa a excelência tecnológica que os fabricantes de cameras entregam hoje em dia aos entusiastas e profissionais da área; ” The Creator” foi filmado recorrendo ao engenho e criatividade, mais do que à carteira e o resultado irá com certeza fazer escola, atestando desde logo da importância histórica que este filme já tem. Quanto ao resto, notam-se algumas fragilidades narrativas, muita ponta solta e alguma falta de “nexo”, num filme que não é perfeito, que acaba por ser vítima da sua previsibilidade mas que não abala com isso o lugar de destaque que merece por tudo aquilo que representa. A ver, em especial pelos amantes da sétima arte.
Grande para quê?
Escrito em: 2023-08-10
A espaços brilhante, mas vítima das suas limitações auto-impostas, “Oppenheimer” ensina mais uma vez a velha máxima da engenharia: “If it works, dont fix it!”, mas vamos por partes: Nolan escreveu o que se pode considerar um biopic clássico sobre…
A espaços brilhante, mas vítima das suas limitações auto-impostas, “Oppenheimer” ensina mais uma vez a velha máxima da engenharia: “If it works, dont fix it!”, mas vamos por partes: Nolan escreveu o que se pode considerar um biopic clássico sobre a vida de um homem, mas aqui começam os problemas, pois a sua necessidade de meter tudo dentro de uma peça dramática de 3 h e tal provocou no arco desta personagem um desequilíbrio nítido no 3o acto, demasiado longo, com um incessante pingue pong entre Strauss e a comissão Macharthy (digamos assim) que funcionou de forma perversa como um anti-climax, pois a explosão na experiência “Trinity” deveria ter encerrado a história principal da personagem; foi um filme sobre o pai da bomba atómica que fomos ver? Ou sobre uma vítima da perseguição anti comunista do pós guerra? Em que ficamos Nolan? Penso que o realizador tentou respeitar a cronologia da história real e aquele último acto prova que continua ainda num try and error desde “Interstellar”, os filmes são bons, mas há sempre qq coisa no cinema de Nolan que falha de forma espectacular, a neste caso até nem foi só a carpintaria de argumento! Nolan é um pouco prisioneiro do seu dogma: a renúncia a efeitos digitais nos seus filmes está-lhe a causar óbvios problemas, e aquele plano ridículo em “Dunkirk” sobrevoando a praia com meia dúzia de filas de soldados na rebentação (basta consultar as imagens da época para percebermos a verdadeira escala que aquele plano deveria ter tido) foi só o prenúncio do que estava para vir, aqui em “Oppenheimer” não posso deixar passar a cena da detonação da experiência “Trinity”, que quase foi cómica de tão, digamos, “impotente”; nao sei quantas quilotoneladas de explosão reduzidas a um flash de luz, um rebentamento de meia duzia de latas de gasolina, tudo muito mal amanhado, com efeitos de som de partir a rir, planos escuros com lentes abertas ao máximo para desfocar o fundo, cortes para planos das personagens “admiradas”, enfim, quase cómico de tão mau, ficando óbvio que Nolan não teve planos suficientes para fazer da cena o que por ventura pretendia e teve de trabalhar com o que havia, e tudo porque “quase todos os efeitos especiais nos meus filmes são in-camera”, amigo… se é para ficar assim, acho que podes trazer o cgi em força. Sim os filmes modernos muitas vezes são uma espécie de orgia CGI, mas os efeitos visuais digitais existem por uma razão e resultam! If it works…DONT FUCKING FIX IT!!
E depois aquela mixagem de som… eu sinceramente pensava que era problema das cópias, mas desde “Interstellar” que noto problemas gritantes no som dos filmes do Nolan, as personagens são muitas vezes abafadas pela trilha sonora, filmes como “Tenet” simplesmente não funcionam em ATMOS por exemplo, não sei se é opção consciente de Nolan, numa tentativa tosca de aumentar o scope das cenas e a sua intensidade dramática, mas para mim aquilo é um desastre! E finalmente, vamos falar honestamente da opção pelos sensores de 70mm (IMAX)? Digam me lá quantos de vocês realmente “notam” que estão a ver um filme gravado para uma tela mais alta do que a vossa casa? De que serve aquele sensor gigantesco se depois não se tira vantagem usando, por exemplo, mais planos de grande angular (Kubrick, volta por favor!!), ou lentes de grande distância focal para se obter aquele efeito tridimensional de desfoque do plano de fundo? O director de fotografia de “Oppenheimer” serviu a história e compôs planos para contar a história que Nolan precisava, e bem, mas para isso o IMAX é “overkill”! É completamente desnecessário! Sendo que, na minha opinião o dinheiro poupado no departamento de efeitos visuais foi torrado nas despendiosas câmaras IMAX apenas para uma espécie de golpe publicitário, ajudando ao marketing do filme, nada mais. Gostei do filme, Cillian Murphy merece o óscar, Emily Blunt vai ser nomeada, e sobre isso falarei se calhar noutro post. Mas, foda-se Nolan, assim não pá. Assim, esquece.
Só controlas o que podes destruir
Escrito em: 2023-07-01
Paul Atreides foi treinado, preparado, toda a vida para um dia cumprir o seu destino e trazer a verdadeira liberdade a um povo oprimido num mundo distante, um planeta árido, hostil, habitado por vermes gigantescos simbolizando o poder indomável da…
Paul Atreides foi treinado, preparado, toda a vida para um dia cumprir o seu destino e trazer a verdadeira liberdade a um povo oprimido num mundo distante, um planeta árido, hostil, habitado por vermes gigantescos simbolizando o poder indomável da natureza perante a havidez humana; esta personagem imensa, Paul Atreides/Paul Muadib é uma figuração de Jesus Cristo, o profeta que trouxe também ele a um povo oprimido a palavra da salvação, mas a salvação deste messias passava por uma profunda luta interior, a aceitação de que o ascendente do espírito sobre a carne é a única forma de sublimação, sendo assim, durante toda a história de “Dune” o autor confronta-nos sempre com a simetria espírito/matéria, ying/yang, traduzida na busca de Muadib pela união com a natureza e com os seus espíritos ancestrais através da Água da Vida, uma das cenas centrais de toda a história. Só depois deste momento de verdadeira ascenção Paul se encontra finalmente com o seu destino e se transforma naquilo que o povo Fremen (os povos da Palestina) necessitam para encontrarem o seu caminho dourado, o caminho para a “verdadeira” liberdade; Paul é o Messias desta nova ordem, da luta pela justiça, pela reposição da ordem natural das coisas, pela recuperação da identidade de um povo e também da sua profunda conexão com a natureza, a sua terra, o seu mundo. Mas tal como Macbeth, Muadib é ele próprio um prisioneiro do seu destino, produto de uma farsa, de uma mentira, uma fábula cozinhada durante milénios, e tal como Jesus Cristo, a sua mensagem original foi corrompida e o seu conflito intrínseco anuncia uma guerra apocalíptica em nome da justiça. Muadib é uma sombra negra, um avatar terrível, medonho, horrendo, a espada do destino travestida de mensagem de liberdade, ele próprio é a sua negação, a prova de que o caminho dourado do espírito sobre a carne foi infectado por uma vontade de vingança, um ódio para com o opressor que o faz ainda mais terrivel, cruel e sanguinário, e, paradoxalmente, realmente invencível. Jesus Cristo disse que apenas com a sublimação do Espírito o homem alguma vez conseguirá a transcendência para ser mais do que é; e essa é a única forma de ser verdadeiramente livre. De se libertar de tudo. “Só controlas realmente o que podes um dia destruir”, disse Paul Muadib: é porque um dia vamos morrer que temos vontade de viver, é porque um dia o amor acaba, que temos tanta vontade de amar, é por a democracia ser tão frágil que temos de lutar contra a ascenção dos fascismos e da intolerância… e só seremos um dia verdadeiramente livres se nos libertarmos de tudo.
Os Arrependidos
Escrito em: 2023-05-02
Já muito aqui escrevi sobre os neoncons arrependidos, como a Lagarde, que depois de 2008 abandonou o FMI para ir ganhar 35 mil por mês para aguentar negócios para amigos dos lobbys por entre os corredores de Bruxelas, e mandar…
Já muito aqui escrevi sobre os neoncons arrependidos, como a Lagarde, que depois de 2008 abandonou o FMI para ir ganhar 35 mil por mês para aguentar negócios para amigos dos lobbys por entre os corredores de Bruxelas, e mandar volta e meia umas bocas contra as decisões que ela própria patrocinou uns anos antes, enfim até aqui nada de propriamente interessante, não fosse desta vez além do nosso presidente, um social democrata de centro esquerda, agora também se junta Montenegro, e pasme-se, até o chefe da tribo dos exilados de Passos, todos bradando contra mais uma ofensiva do monstro capitalista preocupado com os altíssimos salários em Portugal; mas lá está, o capitalismo neo conservador baseado nos mercados financeiros globalizados (vou dizer assim para não resumir tudo em “política económica de direita”) é uma serpente que mordeu a própria cauda: o facto dos mercados estarem a ser dominados por países como a China e a Arábia Saudita é a prova que as teorias neo con de direita estavam certas, percebem a ideia? Explorar uma massa infindável de baixos salários e concentrar a riqueza numa pequena percentagem da população de facto resulta numa sociedade mais competitiva, mais poderosa económicamente num todo, sendo que, como aqui já expliquei também, as sociedades capitalistas precisam de produzir sempre muito mais pobres que ricos para resultarem, e este é o anátema fundamental do capitalismo moderno que os economistas tecno-shit que aparecem nas nossas televisões nunca explicam, porque não interessa, a Europa e os EUA (mesmo estes com uma massa de pobres a rondar os 10%!!!) com um modelo de sociedade assente num respeito mínimo pelos direitos sociais das pessoas, salários dignos, protecção no desemprego, serviços de saúde e educação, etc, não tem a mínima hipótese, A MÍNIMA HIPÓTESE, de concorrer económicamente com sociedades que empregaram à letra a receita capitalista neo conservadora… A questão é política, não económica. A saída é uma escolha política, não uma folha de excel com continhas que se aprendem na faculdade.
Regresso a Arrakis
Escrito em: 2023-04-26
Nesta história, a humanidade tinha desabado no ócio e na apatia, dominada que estava pela AI, e por isso foi proibida a construção de qualquer máquina que imitasse a mente humana; estranha premonição a de Frank Herbert quando escreveu “Dune”…
Nesta história, a humanidade tinha desabado no ócio e na apatia, dominada que estava pela AI, e por isso foi proibida a construção de qualquer máquina que imitasse a mente humana; estranha premonição a de Frank Herbert quando escreveu “Dune” em 1965, antecipando o futuro em mais de 5 décadas. Mas não só desse tema fala esta história passada nas paisagens áridas de Arrakis, o messias de uma nova ordem, o guerreiro que uniria o povo em torno da causa da liberdade e justiça, Paul Muadib, seria a metáfora perfeita para a história de Jesus Cristo que Herbert emula nos 2 primeiros livros da saga, e dessa forma, o envelope filosófico denso de “Dune” e “Dune Messiah” convoca o leitor para profundas reflexões sobre temáticas como o socialismo, a religião e a ascensão dos totalitarismos. Sendo uma história negra, triste e desencantada sobre o destino da humanidade, as suas contradições e becos sem saída, “Dune” acaba também por ser uma homenagem aos seres humanos que transportam em si a palavra da tolerância, do progresso, da justiça e da verdadeira liberdade. Lá para Outubro teremos o segundo capítulo da epopeia de uma das mais celebradas obras da literatura mundial. “Long live the fighters!”
A oeste de Bakhmut, nada de novo
Escrito em: 2023-04-20
Em Bakhmut o exército Ucraniano arrisca o cerco completo e aumenta pilha de corpos na alvorada da primavera. Não se pode dar a impressão de uma qualquer derrota, e nesse sentido ensaia-se a narrativa a vender; vai ser “uma retirada…
Em Bakhmut o exército Ucraniano arrisca o cerco completo e aumenta pilha de corpos na alvorada da primavera. Não se pode dar a impressão de uma qualquer derrota, e nesse sentido ensaia-se a narrativa a vender; vai ser “uma retirada estratégica”, tudo para disfarçar a cagada que tem sido a ajuda ocidental à Ucrânia, ontem ouvi que por exemplo dos 400 e tal carros de combate previstos apenas chegaram cento e pouco, sim, estão a ler bem, enquanto isso a frente é martelada diariamente pela poderosa artilharia russa e a coisa está desesperada ao que parece. Macron, o ponta de lança, já foi à China ver se Xi ji Ping intercede pela Europa, pondo encima da mesa os 700 biliões de trocas comerciais com a UE e a assunção de que é vital manter as populações do velho continente calmas e obedientes ao esforço de guerra. Quem a vai pagar a conta são os pobres e a classe média Europeia e não é hora de perder o conto de fadas heróico que se anda a vender.
Estamos todos sentados à espera da contra ofensiva Ucraniana, que por este andar deve acontecer lá para o dia 30 de Fev do próximo ano, e os EUA continuam a ser os EUA; fezada que a economia não dê Tilt, já que foi deste lado que os bancos começaram a falir e não do outro, mas nunca subestimar a capacidade dos americanos de apanhar nos cornos, nos últimos 50 anos onde se meteram perderam sempre e foram corridos, a última vez do Afeganistão, com o rabinho entre as pernas, deixaram as meninas afegãs para trás para cuidar dos meninos marines e das suas mamãs, fartas do bullshit do costume. Nunca percebi o fascínio Europeu pelos EUA, especialmente por gente demasiado nova para os terem visto realmente ganhar o que quer que seja, Macron lá vai dando o mote: esquecam naqueles loosers e vamos nós sozinhos com a China que é mais seguro.
Dentro da América há um outro país: a finança, o neoliberalismo, e esse não tem pátria e não quer saber do chão onde medra, está se a borrifar para a Rússia, para a Ucrânia e para a Europa, apenas lhe interessa o balance lá para o dia 30. E aí reside a sua tragédia fundamental, a razao porque tudo acaba eventualmente por falhar. Bastou um puto apelidado de Teixeira para nos recordar o tigre de papel americano.
É este bullshit dos EUA que lhe mina por completo a credibilidade. Lá fora os Estados Unidos são pouco mais do que uma piada; um país que luta contra terroristas por esse mundo fora, e bem, os inimigos dos EUA, mas que vive uma guerra civil há décadas, com um número estimado de baixas entre as 10 e 15 mil americanos mortos só o ano passado por outros seus concidadãos e porquê? Porque não existe controlo de armas; nem a Al Kaeda sonharia com um bodycount desses, é deixá-los sozinhos que eles matam se uns aos outros.
Agora na guerra da Ucrânia, passam a receita de sanções económicas à Rússia para a vergar a um colapso económico, mas é do seu lado que há bancos a falir. E as armas estao desta vez ironicamente atrasadas.