Já muito aqui escrevi sobre os neoncons arrependidos, como a Lagarde, que depois de 2008 abandonou o FMI para ir ganhar 35 mil por mês para aguentar negócios para amigos dos lobbys por entre os corredores de Bruxelas, e mandar…
Já muito aqui escrevi sobre os neoncons arrependidos, como a Lagarde, que depois de 2008 abandonou o FMI para ir ganhar 35 mil por mês para aguentar negócios para amigos dos lobbys por entre os corredores de Bruxelas, e mandar volta e meia umas bocas contra as decisões que ela própria patrocinou uns anos antes, enfim até aqui nada de propriamente interessante, não fosse desta vez além do nosso presidente, um social democrata de centro esquerda, agora também se junta Montenegro, e pasme-se, até o chefe da tribo dos exilados de Passos, todos bradando contra mais uma ofensiva do monstro capitalista preocupado com os altíssimos salários em Portugal; mas lá está, o capitalismo neo conservador baseado nos mercados financeiros globalizados (vou dizer assim para não resumir tudo em “política económica de direita”) é uma serpente que mordeu a própria cauda: o facto dos mercados estarem a ser dominados por países como a China e a Arábia Saudita é a prova que as teorias neo con de direita estavam certas, percebem a ideia? Explorar uma massa infindável de baixos salários e concentrar a riqueza numa pequena percentagem da população de facto resulta numa sociedade mais competitiva, mais poderosa económicamente num todo, sendo que, como aqui já expliquei também, as sociedades capitalistas precisam de produzir sempre muito mais pobres que ricos para resultarem, e este é o anátema fundamental do capitalismo moderno que os economistas tecno-shit que aparecem nas nossas televisões nunca explicam, porque não interessa, a Europa e os EUA (mesmo estes com uma massa de pobres a rondar os 10%!!!) com um modelo de sociedade assente num respeito mínimo pelos direitos sociais das pessoas, salários dignos, protecção no desemprego, serviços de saúde e educação, etc, não tem a mínima hipótese, A MÍNIMA HIPÓTESE, de concorrer económicamente com sociedades que empregaram à letra a receita capitalista neo conservadora… A questão é política, não económica. A saída é uma escolha política, não uma folha de excel com continhas que se aprendem na faculdade.
Regresso a Arrakis
Escrito em: 2023-04-26
Nesta história, a humanidade tinha desabado no ócio e na apatia, dominada que estava pela AI, e por isso foi proibida a construção de qualquer máquina que imitasse a mente humana; estranha premonição a de Frank Herbert quando escreveu “Dune”…
Nesta história, a humanidade tinha desabado no ócio e na apatia, dominada que estava pela AI, e por isso foi proibida a construção de qualquer máquina que imitasse a mente humana; estranha premonição a de Frank Herbert quando escreveu “Dune” em 1965, antecipando o futuro em mais de 5 décadas. Mas não só desse tema fala esta história passada nas paisagens áridas de Arrakis, o messias de uma nova ordem, o guerreiro que uniria o povo em torno da causa da liberdade e justiça, Paul Muadib, seria a metáfora perfeita para a história de Jesus Cristo que Herbert emula nos 2 primeiros livros da saga, e dessa forma, o envelope filosófico denso de “Dune” e “Dune Messiah” convoca o leitor para profundas reflexões sobre temáticas como o socialismo, a religião e a ascensão dos totalitarismos. Sendo uma história negra, triste e desencantada sobre o destino da humanidade, as suas contradições e becos sem saída, “Dune” acaba também por ser uma homenagem aos seres humanos que transportam em si a palavra da tolerância, do progresso, da justiça e da verdadeira liberdade. Lá para Outubro teremos o segundo capítulo da epopeia de uma das mais celebradas obras da literatura mundial. “Long live the fighters!”
A oeste de Bakhmut, nada de novo
Escrito em: 2023-04-20
Em Bakhmut o exército Ucraniano arrisca o cerco completo e aumenta pilha de corpos na alvorada da primavera. Não se pode dar a impressão de uma qualquer derrota, e nesse sentido ensaia-se a narrativa a vender; vai ser “uma retirada…
Em Bakhmut o exército Ucraniano arrisca o cerco completo e aumenta pilha de corpos na alvorada da primavera. Não se pode dar a impressão de uma qualquer derrota, e nesse sentido ensaia-se a narrativa a vender; vai ser “uma retirada estratégica”, tudo para disfarçar a cagada que tem sido a ajuda ocidental à Ucrânia, ontem ouvi que por exemplo dos 400 e tal carros de combate previstos apenas chegaram cento e pouco, sim, estão a ler bem, enquanto isso a frente é martelada diariamente pela poderosa artilharia russa e a coisa está desesperada ao que parece. Macron, o ponta de lança, já foi à China ver se Xi ji Ping intercede pela Europa, pondo encima da mesa os 700 biliões de trocas comerciais com a UE e a assunção de que é vital manter as populações do velho continente calmas e obedientes ao esforço de guerra. Quem a vai pagar a conta são os pobres e a classe média Europeia e não é hora de perder o conto de fadas heróico que se anda a vender.
Estamos todos sentados à espera da contra ofensiva Ucraniana, que por este andar deve acontecer lá para o dia 30 de Fev do próximo ano, e os EUA continuam a ser os EUA; fezada que a economia não dê Tilt, já que foi deste lado que os bancos começaram a falir e não do outro, mas nunca subestimar a capacidade dos americanos de apanhar nos cornos, nos últimos 50 anos onde se meteram perderam sempre e foram corridos, a última vez do Afeganistão, com o rabinho entre as pernas, deixaram as meninas afegãs para trás para cuidar dos meninos marines e das suas mamãs, fartas do bullshit do costume. Nunca percebi o fascínio Europeu pelos EUA, especialmente por gente demasiado nova para os terem visto realmente ganhar o que quer que seja, Macron lá vai dando o mote: esquecam naqueles loosers e vamos nós sozinhos com a China que é mais seguro.
Dentro da América há um outro país: a finança, o neoliberalismo, e esse não tem pátria e não quer saber do chão onde medra, está se a borrifar para a Rússia, para a Ucrânia e para a Europa, apenas lhe interessa o balance lá para o dia 30. E aí reside a sua tragédia fundamental, a razao porque tudo acaba eventualmente por falhar. Bastou um puto apelidado de Teixeira para nos recordar o tigre de papel americano.
É este bullshit dos EUA que lhe mina por completo a credibilidade. Lá fora os Estados Unidos são pouco mais do que uma piada; um país que luta contra terroristas por esse mundo fora, e bem, os inimigos dos EUA, mas que vive uma guerra civil há décadas, com um número estimado de baixas entre as 10 e 15 mil americanos mortos só o ano passado por outros seus concidadãos e porquê? Porque não existe controlo de armas; nem a Al Kaeda sonharia com um bodycount desses, é deixá-los sozinhos que eles matam se uns aos outros.
Agora na guerra da Ucrânia, passam a receita de sanções económicas à Rússia para a vergar a um colapso económico, mas é do seu lado que há bancos a falir. E as armas estao desta vez ironicamente atrasadas.
A nova eletricidade
Escrito em: 2023-01-12
Ciclicamente regressa dos mortos prometendo um mundo novo, mas entra nas nossas vidas exactamente com a mesma lógica que entraram os motores a vapor no século 19, substituir mão de obra, automatizar e reduzir custos, a velha lenga lenga que…
Ciclicamente regressa dos mortos prometendo um mundo novo, mas entra nas nossas vidas exactamente com a mesma lógica que entraram os motores a vapor no século 19, substituir mão de obra, automatizar e reduzir custos, a velha lenga lenga que anda em loop desde sempre; dizem os engenheiros da Google no entanto que agora é que é, agora sim, agora é que temos a velocidade de processamento necessária para as rotinas de retropropagação de dados de “reforço” nos nós dos monstruosos modelos de dados, ambiciosamente baptizados desde os anos 60 de redes neuronais, mas que paradoxalmente pouco ou nada têm a ver com o sistema neural que você que lê estas linhas possui dentro dos miolos. A ideia é simples, imagine que consegue ligar cada pixel de uma imagem a um sistema de nós e daí para a frente vai interligar esses nós com outras camadas com mais nós, e mais nós, milhares, milhões, biliões, organizados em camadas, mas, e aqui reside o “twist”: na última camada, vamos chamar “saída”, só pode ter dois nós, um chamado “boi” e outro “vaca”; à partida não se vai importar com mais nada do que com dois aspectos: os nós entre camadas têm de estar todos interligados e em cada uma dessas ligações vai lá colocar um número entre 0 e 1, ou entre 0 e 100 (se quiser pensar em percentagem), vai lhe chamar peso, ou válvula, ou o que quiser, também não é importante, e a seguir vai fazer o seguinte: vai ao início da rede, aquela que tinha os pixeis ligados ao primeiro modelo, e vai lhe mostrar uma imagem de uma cadeira, e vai esperar até a leitura digital se propagar por todas as camadas da rede e sair na “saída”, nessa altura vai decidir o que mais se aproxima de uma “Vaca”, e vai decidir pela primeira vez que é essa imagem de uma cadeira, a seguir pergunta à rede qual foi o caminho percorrido por todas as interligações para chegar a “Vaca”, e vai reforçar esse caminho aumentando cada um dos pesos dessas interligações, a isso se chama retropropagação; da próxima vez que voltar a aparecer uma cadeira, a rede neuronal vai, como é esperado, achar que é uma Vaca, mas agora você vai repetir o teste com um gato, e com uma galinha, e com um pato, e com a Mona Lisa, e com…e por aí fora, e em cada uma dessas vezes você vai avaliar cuidadosamente o resultado e retropropagar os pesos por toda a rede reforçando as interligações que provocarem uma resposta mais próxima da certa, e por consequência, cada vez mais aproximar o sistema, como um todo, de vir a acertar no que é de facto uma Vaca ou um Boi; depois de repetir biliões de vezes este processo, no final, e foi isto que os cientistas da AI descobriram de interessante, você vai acabar com um modelo automatizado baseado em redes neuronais que reconhece uma Vaca, ou um Boi com um grau de fiabilidade comparável a algo semelhante a “inteligência”.
Claro que este sistema só faz isso, rigorosamente mais nada, não fala consigo, não vai consigo ao futebol, etc… os avanços da AI, apesar de incríveis, e há coisas mais incríveis na ciência moderna, desculpem, apesar de parecerem espectaculares estão a décadas de por exemplo produzirem um autómato que faça uma coisa simples como ir buscar cervejas ao frigorífico e provavelmente a um século ou dois de conduzirem um carro na estrada, para dar dois exemplos de fracassos estrondosos da AI actual. O caminho do Deep Learning e de outras técnicas da chanada AI restrita (a AI geral é a inteligência artificial antropomórfica semelhante à humana, e essa ainda é simplesmente ficção científica) ainda está muito afastada da neurociência e necessita de quantidades massivas de dados para funcionar, de complicadissimos e despendiosos sistemas de refrigeração para evitar que os biliões de núcleos de processamento derretam os datacenters durante o seu funcionamento. Tudo isto delimita o potencial de evolução da tecnologia a não ser que algo de verdadeiramente revolucionário aconteça, e que teima em não acontecer. A AI moderna continua a abrir caminho por entre temas como a automatização de stocks em armazém, lojas de fast food, linhas de assemblagem em chãos de fábrica, tudo tarefas desumanas de baixíssimo investimento intelectual e ambientes muito controlados; e mesmo na aparência de sistemas como o ChatGPT da OpenAI se torna claro que se trata apenas do Google Search on steroids, brut force de uma quantidade massiva de dados em contexto, sistemas de ajuda à decisão mas sem nenhum lampejo de abstração ou extrapolação caraterística de um sistema de AI geral.
Babilónia para sempre
Escrito em: 2023-01-08
Depois de “La La Land”, uma espécie de homenagem íntima ao mundo do cinema e aos que nele tentam subsistir, a cidade dos anjos como o seu eldorado e o deserto da realidade como o destino cáustico de duas personagens…
Depois de “La La Land”, uma espécie de homenagem íntima ao mundo do cinema e aos que nele tentam subsistir, a cidade dos anjos como o seu eldorado e o deserto da realidade como o destino cáustico de duas personagens abandonadas à sua sorte, sem espaço para o amor; depois desta carta de amor que Damien Chazelle enviou a todos os amantes da 7a arte, este jovem sedento tenta uma abóbada total de encantamento; um excesso visual e uma excentricidade chamada “Babylon”, e que bebedeira é de facto este filme desregrado sobre a transição do mudo para os anos de ouro do som em Hollywood, que deixou muitas estrelas para trás, muito por causa da redefinição que provocou no planalto artístico entretanto atingido pelas décadas do cinema mudo. Gosto, gosto muito, na verdade adoro os riscos que Chazelle esteve disposto a correr para fazer o filme que queria fazer, e o resultado é brilhante, intenso, cheio de humor e de momentos icónicos, como o monólogo furioso de Margot Robbie na festa de angariação de financiadores ou logo na cena inicial do elefante (sim, elefante, e mais não digo).
Mesmo tecnicamente o filme corre mais do que uma quantidade razoável de riscos, como o uso de lentes anamórficas de grande abertura, para nos dar um sentimento de imersão e “scope” total, provocando um foco instável em muitas cenas, ou nas sequências filmadas em contínuo com as dificuldades e complicações daí resultantes, mas tudo isto vale a pena quando a alma do criador não é pequena, a alma deste jovem ambicioso que é Damien Chazelle, pleno de talento e garra para ter o desplante e o descaramento de tão cedo na sua carreira nos oferecer este excesso, esta excentricidade fantástica e inebriante chamada “Babylon”, a babilónia dourada desta arte tremenda chamada cinema. Margot Robbie está sexy, fabulosa, cómica e vibrante, Pitt seguro e charmoso, e Damien Chazelle continua a nos conquistar com a sua coragem e honestidade, o cinema, esse, continua a nos fazer sonhar. Obsolutamente obrigatório.
Os Avatares da nossa decadência
Escrito em: 2022-12-23
No futuro, a humanidade conquistou as viagens interestelares mas acaba derrotada por seres de aspecto antropóide, montados numa espécie de cavalos voadores e armados com arco e flechas. É este o nível de imbecilidade que a história de Cameron espera…
No futuro, a humanidade conquistou as viagens interestelares mas acaba derrotada por seres de aspecto antropóide, montados numa espécie de cavalos voadores e armados com arco e flechas. É este o nível de imbecilidade que a história de Cameron espera que, digamos, “normalizemos”, e já agora, a desculpa de que se trata afinal de um filme para crianças é particularmente insultuosa, porque mesmo uma criança tem de saber que isto é parvo e sem sentido. De resto, de que trata Avatar 2? Cameron aposta no mínimo denominador comum do homem, o macho, o pai de família, investido na sua necessidade básica de defender a sua família contra a personificação demoníaca do “povo do céu “, a redução que Cameron faz dos invasores a uma espécie de seita capitalista fanática, uma turbe de gente acéfala, com um léxico reduzido a frases como “vamos lá ganhar uns trocados” enquanto torturam alegremente uma espécie de baleias alienígenas, já que neste filme, os seres humanos são em geral muito maus e muito, mas muito burrinhos, além de claro terem uma pontaria ao nível de um míope de 74 anos; e nessa regressão dos humanos a símios sedentos de lucro fácil, Cameron aproveita para importar todos os clichés possíveis e imaginários, e lá está o jovem rebelde, a mãe sedenta de vingança (e surpreendentemente xenófoba) e o mau muito mau e com aspecto de mau.
Avatar 2, além de ser um disparate estendido por 3 horas e tal de vacuidade mental que irá torturar qualquer QI superior a 70 até ao desespero, é sobretudo um filme perigoso: a unidimensionalidade das personagens, a superficialidade das suas motivações, vingança, lucro, despeito, e a ultra-simplificação que faz da temática da colonização, anda de mão dada com uma desumanidade surpreendente e chocante; neste filme morrem e são chacinados sobretudo humanos ( contei uma baixa entre os Na’vis), e só faltaram as palmas da audiência no momento em que o alienígena azul crava a sua arma pré- histórica no ser humano sombrio, ele sim o Avatar simbólico da nossa própria decadência. Um filme mau, um desastre de 2 biliões de dólares, muito difíceis de justificar a não ser pelo seu brilhantismo técnico, mas que mesmo aí não faz mais do que repetir o look hiper-saturado de cor digno do mais básico cartoon imaginável. Idiota, sem interesse e dispensável. Poupe o dinheiro.